sexta-feira, 26 de abril de 2013

A paixão


S.K.D. Sulz escreveu que „a paixão é uma loucura”. Sim, quando nos apaixonamos, perdemos literalmente o juízo. O apaixonado fica totalmente entregue aos caprichos de seus sentimentos e uma fábrica química dentro de seu corpo assume o comando, desligando a razão. Você provavelmente já se apaixonou e sabe bem que a paixão não tem lógica, ela acontece ou não acontece, e quando ela acontece, nem sempre é aquilo que esperávamos. Lembro de um amigo que dizia que jamais se apaixonaria por uma mulher de aparência asiática e hoje está feliz, casado e perdidamente apaixonado por sua mulher japonesa. Não, ela não tem lógica, e nem poderia ter: a paixão é um processo bioquímico, nosso corpo produz substâncias que nos fazem sentir felizes, a vida fica “leve” e muito colorida. Essa loucura da paixão é importante e é uma loucura linda. É bom se apaixonar. Mas também é bom entender a paixão, pois ela, apesar de ser algo lindo, pode provocar também muita dor e sofrimento, já que mexe com coisas profundas, como nosso desejo de conhecer alguém, de amar esse alguém, de ser feliz a dois. A paixão é doce, mas também amarga. Entendê-la pode ser uma ajuda para evitar que a “doce loucura” termine se transformando em sofrimento.

Paixão não é amor

Eu diria que o amor é o destino. A paixão é um caminho.

Recordo-me de uma ex-namorada minha. Duas semanas depois de ter me conhecido, ela disse que me amava. Eu fiquei embaraçado e não soube bem como reagir. Estava claro que ela esperava ouvir o mesmo de mim. Eu estava muito apaixonado por ela, mas já a amava? Não, não a amava, pois, para mim, amar é em primeiro lugar gostar do outro assim como ele é. Mas, apesar de apaixonado e feliz, percebi que mal nos conhecíamos. Como eu poderia “amá-la assim como ela é” se eu ainda nem sabia direito como é que ela era. Percebi então a diferença entre paixão e amor. Eu estava apaixonado, feliz, otimista, planejando um futuro com aquela mulher, que eu queria conhecer, gostar cada dia mais, aprendendo a amá-la. Percebi que ela confundia amor com paixão. Acho importante entender que não é a mesma coisa. Ambos podem existir simultaneamente (tem coisa melhor do que estar apaixonado por quem se ama?), mas são coisas diferentes.
Mesmo que muitas vezes nos esqueçamos disso, o homem também é um animal, um ser vivo, parte da natureza. Todo ser vivo é biologicamente programado para sobreviver e se reproduzir, garantindo a existência da espécie. Soa seco, mas é um fato, que vale para qualquer ser vivo, para qualquer planta, para qualquer animal, também para os homens.

Não gostaria de ser mal entendido. Não quero de forma alguma reduzir a paixão a um mero instinto de sobrevivência. O encontro de duas pessoas, a atração física, a intimidade e tudo que acompanha essa fase fazem da paixão algo bem mais complexo, mas não deveríamos ignorar a importância de nossos instintos e do que acontece com nosso corpo e nossa cabeça quando nos apaixonamos.

O homem é um ser social. Com raras exceções, nenhum ser humano gosta de viver isolado, sem contato com outras pessoas. Isso fez com que ele, ainda cedo na sua evolução, optasse por viver em grupos, construindo mais tarde cidades, organizando em países, formando nações. Crescemos em famílias, nos sentimos intimamente ligados a determinadas pessoas, criamos laços emocionais, pois precisamos disso para sobreviver. Isso tem funcionado bem desde o inicio da vida humana neste planeta, já que estamos aqui até hoje. A estratégia social do animal homem não passou despercebida pela evolução humana, que achou um jeito de juntar mulher e homem e garantir a existência humana: a paixão. Uma solução bem mais elegante que o cio de outros animais.

Estou pessoalmente convencido de que nos apaixonamos pelo nariz. Diversos estudos comprovam isso. Mesmo que não percebamos de imediato (ou nunca!), é o nariz que decide por quem nos apaixonamos. Naturalmente há outros fatores, mas se o cheiro do outro não bater com o “programa biológico” do próprio corpo, ele não terá nenhuma chance. E acredito que percebemos isso muitas vezes. Talvez você conheça a experiência de achar uma pessoa atraente, de ficar interessado, de ver de novo, de ficar mais interessado ainda, mas perdendo rapidamente o interesse na primeira aproximação dos corpos. Tudo parecia perfeito, mas não funcionou mais a partir de um determinado momento. Normalmente isso passa despercebido, mas se você prestou bem atenção, foi o cheiro do outro que não agradou. Não falo de cheiro de perfume. Esse se pode comprar por aí. E nem digo que o outro cheirava mal. Falo do cheiro do corpo, do cheiro natural da pessoa. Isso não quer dizer que pessoas que “não se cheirem bem” não possam viver juntas e até mesmo amar uma a outra (amor não é paixão!). Mas duas pessoas com incompatibilidade de cheiro não vivem uma grande paixão.

 Às vezes nem entendemos porque não nos apaixonamos por determinadas pessoas. E muito menos entendemos por que nos apaixonamos por determinadas outras. Acredite: é o nariz. Escolhemos institivamente pelo cheiro alguém que tenha um sistema imunológico diferente do nosso para aumentar nossa resistência genética. Assim somos biologicamente programados. Quando o nariz dá o sinal verde e os demais fatores também estejam de acordo, o corpo produz dopamina e adrenalina, o nível de serotonina é alterado, a bagunça química começa, o corpo entra em festa, causando euforia e sentimento de felicidade, satisfação.

O que quero dizer é que a paixão é um caminho para que dois seres humanos possam se conhecer e talvez se amar. Precisamos dela, mas ela não é amor. Curta sua paixão e deixe o amor crescer. Mas use a palavra AMOR com moderação. Assim ela terá uma força digna quando for dita no momento certo, sem antecipação.

A paixão é cega

Na Alemanha se diz que alguém que se apaixona coloca óculos cor-de-rosa. Gosto muitíssimo desses “óculos cor-de-rosa”, pois descrevem bem o que acontece. Uma pessoa apaixonada vê tudo “cor-de-rosa”, tudo é bom, tudo é bonito, e nada é melhor ou mais bonito que a pessoa por quem se está apaixonado. A bagunça química causada no corpo desliga a razão, o coquetel que circula por nós faz com que nos sintamos “enfeitiçados”. Adrelina é um estimulante e serotonina tem propriedades similares às que possuem as drogas alucinógenas. A percepção do apaixonado é torcida, ele pensa todo o tempo na outra pessoa, de que tanto gosta e que deseja, achando que ela, independentemente da realidade, é uma pessoa perfeita.

A cegueira da paixão é às vezes perigosa, pois evita que se perceba a tempo problemas. Não é raro relações acabarem bruscamente no fim da fase de apaixonados. A paixão acaba, os óculos cor-de-rosa caem do nariz e de repente se vê as coisas como elas são. Quando estamos apaixonados, temos a tendência de relativizar ou ignorar defeitos do outro. Passando a paixão, a coisa perde o encanto e, no pior dos casos, a princesa volta a ser bruxa e São Jorge volta a ser dragão. Isso resulta não raramente em separações dramáticas e acusações recíprocas. Uma mulher apaixonada, por exemplo, até gosta de dormir abraçada com o namorado, escutando seu ronco e sentindo o tórax dele estremecendo. Quando a paixão acaba, o mesmo ronco pode ser motivo para uma separação.

É essa embriaguez que faz com que uma mulher conheça um homem, se apaixone, fique grávida, seja abandonada e somente então entenda que o “herói” dela não passava de uma fata morgana cor-de-rosa. Tem mulher que até perde muito dinheiro e até se endivida, pois acreditou na honestidade do cafajeste por qual se apaixonou. Dei dois exemplos de mulheres, mas o mesmo vale para homens. A paixão não nos permite agir de forma racional. Praticamente perdemos o controle sobre nossos atos. Ou como se explica que tantas mulheres engravidam e são abandonadas pelo pai da criança? Será que alguma delas teria ficado grávida se tivesse visto a realidade como realmente era? Ou como se explica que homens de meia-idade se apaixonam por mulheres com idade de suas filhas, separam-se das esposas, indo viver com a “menina”, voltando no final sem dinheiro e com a cara quebrada, rezando para que a esposa o aceite de volta?

Continuarei em breve...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mulher Maê!

Brasil Burro!

Texto escrito por um rapaz/homem de 19 anos que está cursando o nível médio em escola pública baiana (reproduzido aqui na íntegra)



terça-feira, 16 de abril de 2013

Redução da maioridade penal: uma reivindicação absurda!


Foto publicada no facebook, na página Verdade Oculta


É com preocupação que tenho acompanhado a campanha pela redução da maioridade penal para que adolescentes possam ser punidos como adultos.

Não percebemos realmente o absurdo de tal reivindicação? Fracassamos como sociedade, permitindo diferenças sociais e econômicas, consentindo que crianças pobres cresçam na marginalidade, sem educação, sem bons exemplos, sem perspectivas. Sim, somos nós, a sociedade, que deixamos esses jovens e adolescentes largados pela rua, os enxotamos quando eles querem lavar o para-brisa de um carro para ganhar uns trocados e os tratamos como se fossem seres de segunda categoria. Não nos importamos quando eles dormem embaixo de pontes, dentro de caixas de papelão e não nos preocupamos se estão tendo seus direitos respeitados, se estão se alimentando bem, se vão à escola e se estão protegidos contra marginais que os usam para praticar crime organizado, como o tráfico de drogas. Não acho que seja hipocrisia apelar para o bom senso e para a responsabilidade que cada um de nós tem como cidadão. É hipocrisia a sociedade permitir que crianças, adolescentes e jovens cresçam largados, na pobreza, sem perspectiva de vida e depois querer puni-los por isso.

De fato, o problema é sério, mas os malfeitores, os que realmente estão por trás disso, são maiores de idade. Por isso, não precisamos de redução alguma. Sim, os responsáveis pelos crimes cometidos por pessoas menores de idade são todos de maior. Por que não punimos os policiais corruptos que permitem que armas e drogas confiscadas voltem para as mãos de bandidos? Por que não punimos aqueles que agem sem escrúpulos, colocando armas nas mãos de crianças, colocando-as para trabalhar para eles? Por que não punimos os barões da droga, que as exploram e viciam, que ganham com a marginalização do jovem pobre? Por que não punimos os políticos corruptos, que ganham com a violência, que toleram ou até mesmo patrocinam o tráfico, que financiam campanhas eleitorais caríssimas com dinheiro de fonte obscura? E por que não damos uma sacudida em todos aqueles que nunca se importaram com o destino de crianças pobres, que nunca deram murro na mesa para protestar contra os absurdos sofridos por crianças no Brasil ou participou de qualquer manifestação a favor dos seus direitos, aqueles que se calam quando crianças pobres famintas pedem comida em restaurantes e são enxotadas como se fossem bichos, mas que agora chamam essas mesmas crianças de monstros, transformando vítimas em bandidos.

O problema da violência no Brasil é sério e precisa ser resolvido, mas não com reivindicações desse tipo. Se queremos resolver o problema da violência no Brasil, temos que cortar pela raiz, mudando estruturas e mudando a mentalidade, fazendo com que as pessoas parem de achar que pequenas picaretagens não são nada demais, deixando de pagar propina a polícia quando é pego dirigindo bêbado, acabando com as “taxas inoficiais” em cartórios e repartições, não sonegando mais impostos, etc., etc., etc. Seria necessário repensar o sistema judiciário brasileiro, que anda com cadeias superlotadas e crime organizado dentro delas. Precisaríamos de um consenso nacional em prol de nossas crianças, adolescentes e jovens, oferecendo educação, combatendo a pobreza, valorizando-os como aquilo que esses jovens são para nós: nosso futuro. E é esse futuro que estamos querendo colocar ainda mais cedo na cadeia.


Foto também publicada na página Verdade Oculta. Para rir, mas também refletir.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Pensamento do dia: o ódio

Ódio, mágoas, ressentimentos, pensamentos de vigança fazem a mal a quem sente... Pode até ser que o outro (o "odiado") venha a sofrer com isso, mas quem sente essas coisas sofrerá com certeza.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Frase do dia: a questão da culpa.

Não gosto da palavra 'culpa'. Para mim, a questão da culpa só existe na igreja e no tribunal. Prefiro falar de responsabilidade.

As férias da Babá


Se tem uma coisa que não gosto é o cinismo com o qual muita gente tenta se isentar da sua responsabilidade social. Vejo ricos, novos ricos e gente de classe média continuando a praticar um regime de quase escravidão, tratando empregados (principalmente os domésticos) como se fossem pessoas de segunda categoria, sem direitos e, pior ainda, sem dignidade humana. Se alguém duvida de que essa mentalidade primitiva é herança dos colonizadores portugueses, que vá a Portugal e veja de perto como até hoje os criados são tratados por lá.
Sim, me incomoda o cinismo, que vivi mais uma vez bem de perto em uma das minhas estadias em Salvador. Fiquei hospedado num hotel em Itapuã. Como não era verão e o carnaval estava muito longe, encontravam-se entre os hóspedes poucos estrangeiros, prevalecendo o turista brasileiro, de classe média alta. Lá também estava uma família do Sudeste do país: pai, mãe, avó e quatro crianças mal-educadas, que corriam e gritavam todos os dias às sete da manhã nos corredores do hotel, acordando a todos, ao ponto de eu um dia acordar mal-humorado, refletindo sobre canibalismo e desejando que Herodes passasse por ali. É claro que essa família havia trazido uma babá, que durante todo o tempo tinha que ficar correndo atrás das crianças, cuidando, tentando educar, desesperando-se. Observei por dias seguidos tal família, ficando horrorizado com a forma que lidavam com a criada, a serviçal, a semi-escrava. Os pais (e também a avó) queriam descansar, o que é compreensivo, pois para isso foram à Bahia. Portanto, as crianças eram sempre encaminhadas para a babá, sempre que queriam algo. Eles nem mesmo respeitavam o direito da babá de ter alguns minutos para comer em paz. Como os encontrava diariamente no café da manhã, vi que a coitada nunca podia tomar o seu desjejum sossegada, sendo constantemente interrompida pelos pais, pelas próprias crianças ou pela vovó preguiçosa, que era incapaz de ir pessoalmente ao quarto buscar algo que ela mesma por negligência havia esquecido. A babá tinha que largar o café na mesa e correr para atender os desejos do senhorio. À noite, o casal saía, a vovó ficava de bate-papo furado na recepção e a empregada, que dormia no mesmo quarto que os quatro monstros em miniatura, cuidava de todo o resto.
Certo dia, fiquei mais tempo sentado no restaurante do hotel, após o café da manhã, assistindo um programa na televisão, que me impressionou pela superficialidade. As pessoas foram-se aos poucos, ficando somente eu, a matriarca, as crianças e naturalmente a babá. Como essa última cuidava dos traquinas, a mãe sentiu-se com certeza entediada, começando uma conversa comigo. Desviei minha atenção do programa de televisão para a senhora, esperançoso de que o conteúdo de tal diálogo seria melhor do que aquele apresentado pela loira televisiva com o seu papagaio sintético esquisito. Infelizmente fui decepcionado, escutando um monte de abobrinhas, presenciando uma ignorância social (e geográfica, pois ela achava que o Ceará tem fronteira com a Bahia) que me meteu medo. A mulher falava mal dos funcionários do hotel (todos preguiçosos e pouco profissionais), da Bahia (que achava um lugar sujo e bagunçado), dos baianos (um povo burro e lento) e de tudo aquilo que não cabia no seu pequeno universo de madame brasileira. Críticas compreensíveis até certo ponto, já que a prestação de serviços na Bahia é algo que realmente deixa muito a desejar, mas incompreensíveis devido ao tom e à arrogância com os quais essas palavras foram ditas. A certo ponto, ela parou de criticar os outros, passando a elogiar a si mesma, indo ao cúmulo do cinismo quando disse o quanto ela (como patroa) era uma pessoa boa, tão boa que estava pagando as férias da babá em Salvador.

Férias ou trabalho?

Fiquei abismado com o que ouvi e ousei-me questionar se as “férias” da babá não seriam na verdade trabalho, mais exatamente um plantão de 24 horas por dia e 7 dias por semana, mas mulher não entendeu (ou não quis entender), apontando para a criada e sugerindo que ela estava muito feliz. Olhei para a babá. Vi como a pobre coitada estava “feliz”, catando miolo de pão do chão, que duas meninas capetas continuavam a jogar para cima, sem que ninguém percebesse a indignidade da situação.
Despedi-me e fui embora sem mais comentários, pois tive medo de perder a diplomacia e terminar “rodando a baiana”, dando a ela motivos para supor que o baiano, além de “preguiçoso, lento e burro”, seria também grosso.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

quarta-feira, 3 de abril de 2013

3 de abril: Frase do dia

Por mais que seja amargo o momento, a vida sempre tem seu lado doce!

A força do pensamento



Nossa mente influencia nossas vidas, às vezes até nos domina. Entender isso é muito importante para que possamos nos libertar de muitas tiranias da razão.

Passei hoje por uma situação que me mostrou mais uma vez a força que temos dentro de nossa cabeça: acordei hoje com muita sede, e bebi muita água. Depois saí para resolver umas coisas. Estava frio lá fora e não demorou muito para a água bebida se manifestar; eu precisava ir ao banheiro. Como sempre, não havia nenhum banheiro próximo, de modo que terminei segurando a vontade. Não tive sorte, não achei nenhum banheiro e terminei segurando por mais de duas horas. A vontade era forte, mas consegui controlá-la até com certa facilidade, já que não havia outro jeito mesmo. Ao chegar em casa e abrir a porta do apartamento, meu cérebro recebeu a informação de que o banheiro estava perto e de repente tive que correr, pois a bexiga parecia que iria estourar.

Parece simplesmente uma história banal, mas ela é bem mais que isso. Ela mostra o controle que nosso cérebro exerce sobre nosso corpo. E compreender isso pode nos ajudar em muitas situações, principalmente naquelas quando somos dominados pela razão, quando ficamos entregues à tirania de nossa cabeça, que nos controla, que nos bloqueia, que impede que nos libertemos de uma determinada situação, que normalmente se encontra no passado, mas que é mantida viva pela nossa cabeça, que por sua vez é alimentada por informações. Na história acima, a informação de que não havia banheiro por perto me ajudou a controlar meu corpo e a segurar a vontade, ou melhor, a necessidade. Quando cheguei em casa, onde havia um banheiro, essa informação perdeu a validade e o cérebro devolveu o controle ao corpo, que exigiu então seu alívio.

As informações influenciam nosso cérebro, que controla não somente nosso corpo, mas também nosso comportamento. Gostaria de tentar ilustrar isso com uma outra história: eu estava sentado em um avião, entre Salvador e Frankfurt, quando entramos em uma zona de turbulências. O avião sacudia levemente, mas de forma constante, os ruídos que vinham do lado de fora eram esquisitos. Uma situação desagradável, mas, enquanto isso, as aeromoças e aeromoços serviam o jantar. Olhei para o outro lado do corredor e vi uma senhora nervosa, com um semblante muito pálido. Vi que ela estava sentindo muito medo e sei que medo é uma coisa que só existe na cabeça. E sua cabeça tinha sido alimentada com as informações de que ela estava voando e que o avião, que pode cair, balançava o tempo todo. Resolvi tentar ajudá-la, passando a ela uma nova informação. Pedi a ela que observasse o comportamento da tripulação, que estava acostumada a voar, e que estava ali, tranquila, servindo o jantar. Disse-lhe que eles se sentariam de imediato e colocariam o cinto de segurança se a situação fosse crítica e que ela não precisava, portanto, ter medo. Ela olhou séria para a tripulação, ficou um tempo calada, respirou fundo e se sentiu mais aliviada. A palidez sumiu de sou rosto. Mas tarde, já no aeroporto, ela agradeceu e disse que eu realmente tinha razão. Ver a tripulação trabalhando normalmente a ajudou a perder o medo naquele momento, o medo que a dominava. Achei interessante perceber como bastou atualizar as informações para reprogramar o controle exercido pela cabeça.

Por que escrevo sobre isso? Por ter observado que algumas pessoas sofreriam menos se entendessem como as informações que recebemos - e mais ainda aquelas que armazenamos - têm uma grande influência sobre nosso comportamento, sobre a nossa forma de viver e sobre nossa saúde.

Entendendo essa relação entre as informações que recebemos e nosso bem-estar, podemos ajudar a nós mesmos, pois compreendemos então que é possível usar esse controle para mudar o que não está funcionando bem. Nossos pensamentos são resultados das experiências vividas e das informações recebidas/armazenadas. Podemos influenciar nossos pensamentos, aprendendo a observar a nós mesmos. Observe seu próprio comportamento, não como um juiz, querendo julgar se o comportamento é certo ou errado. Observe como um cientista, que quer entender o que está acontecendo. Seja crítico, mas seja também paciente e bom com você mesmo. Tente alimentar sua cabeça com as informações que você precisa, e tente atualizar informações antigas, que ficaram guardadas por algum motivo. Esse tipo de informação pode nos acompanhar por toda a vida, influenciando nosso comportamento, muitas vezes de forma positiva e útil, mas às vezes de forma deturpada e sem sentido. Um exemplo: uma pessoa que, por ter sido mordida na sua infância, entra em pânico quando vê um cachorro, pode controlar esse pânico através de contatos positivos com cães. É possível que ela corrija a informação armazenada de que “todo cachorro é perigoso, qualquer um poderia me morder”, entendendo que “a maioria dos cachorros não é agressiva. É necessário tomar cuidado, mas não é preciso entrar em pânico quando se vê um cão”.

A psicologia moderna sabe que as informações que recebemos têm grande importância para nosso comportamento e diz que é importante ter cuidado também com as palavras que usamos. O uso de palavras negativas nos prejudica. Sem que percebamos, usamos palavras que nos fazem mal, que reforçam uma informação negativa salva. Um bom exemplo é a palavra ‘ódio’. Quantas vezes ficamos com raiva e dizemos que odiamos algo ou alguém? Muitas vezes. Há quem argumente que fala ‘ódio’ mas não quer dizer ‘ódio’. Não estou seguro de que isso funciona. Normalmente sabemos o significado de ódio. Nossa cabeça sabe. E isso pode provocar uma reação de ódio, mesmo que não tenha sido essa a intenção. E o mesmo vale para muitas outras palavras, principalmente para todas aquelas que provocam em nós sentimentos de agressividade, culpa ou estresse. Se você ficar repetindo, por exemplo, que “a culpa é sua”, você vai terminar acreditando nisso. E isso não lhe fará bem.

O sorriso ao contrário


É claro que o cérebro não nos influencia só negativamente. Um bom exemplo é o sorriso. O cérebro recebe uma informação positiva, agradável ou engraçada e dispara o movimento de músculos em nosso rosto, provocando o sorriso. Muito interessante aqui é que se descobriu que o contrário também funciona: o sorriso ao contrário, ou seja, a movimentação dos músculos no rosto para provocar um sorriso passam um sinal positivo ao cérebro, que se contenta. É nisso que se baseia, por exemplo, a yoga do riso. É claro que nada substitui um riso espontâneo e verdadeiro, mas um sorriso falso é melhor do que nenhum sorriso. Sorria, então. Isso sempre faz bem.

Saúde começa na cabeça


Em uma fase de enfermidade, observei que conversava muito sobre minha doença. O que não percebi de imediato foi o mal que isso me fazia. Isso ficou claro quando tirei uns dias para descansar e fiquei cercado de pessoas que não conhecia. Praticamente não falei sobre meus problemas de saúde e dediquei-me a outros temas, em conversas agradáveis. No final, percebi o quanto me havia feito bem não pensar na doença por alguns dias. É lógico que temos que ocupar nossos pensamentos com nossa enfermidade, é claro que devemos tentar entendê-la, mas não devemos pensar nela o tempo todo. Devemos manter vigilância, observar a nós mesmos e intervir ao perceber que nossos pensamentos estão nos fazendo mal, buscando novas informações e experiências positivas, usando o cérebro como uma ferramenta super eficaz e preciosa, ao invés de se deixar dominar por ele.