sábado, 18 de maio de 2013

Se todos falam, ninguém realmente escuta...

O mundo moderno mudou muitas coisas, marcante é a velocidade na troca de informações, a rapidez em nossa comunicação. Enquanto que atigamente nos comunicávamos com mais tempo, escolhendo as palavras e aprofundando a percepção tanto na hora de enviar como de receber algo comunicado, não temos hoje mais tempo para isso. Qualquer informação se espalha tão rapidamente que muitas vezes já é ultrapassada quando a recebemos, pois já há uma informação mais atual. Essa velocidade não permite uma reflexão demorada, o que faz com que a rapidez prejudique a qualidade do que comunicamos: informações são passadas adiante sem que realmente reflitamos sobre elas. E isso gera uma dinâmica que traz poucos frutos, pois na avalanche de informações, geradas, recebidas e passadas adiante, nos vemos confrontados com nosso limite humano de processar tudo isso. Temos que filtrar, e muitas vezes filtramos errado. Informações de pouca relevância recebem assim, não raramente, uma impotância maior do que a merecida. Outras informações, mais ricas de conteúdo, podem passar despercebidas e cair rapidamente no esquecimento coletivo. Outro aspecto é a necessidade humana de se manifestar, die expor seu ponto de vista, de também dizer algo, de participar, ou seja, de enviar e não somente receber informações, o que faz crescer o número de conhecimentos partilhados. Além de partilharmos esses conhecimentos sem a devida reflexão, geramos uma verdadeira "salada de informações", esperando acompanhar a rapidez e receber de uma comunidade virtual a confirmação de que estamos acompanhando o "espírito do tempo moderno". O resultado desse aumento quantitativo de informações é a perda qualitativa de uma das coisas mais valiosas que temos: nosso poder do verbo, nosso poder de comunicação. Nesse contexto, me sinto como se estivesse sentado com várias pessoas em torno de uma mesa, conversando e discutindo, mas com todos falando ao mesmo tempo e querendo partilhar sua opinião. E o problema do falar ao mesmo tempo é que, se todos falam, ninguém realmente escuta.

Sobre a pobreza

Não é raro escutar no Brasil discursos sobre a pobreza, que a abordam como se ela fosse um problema genético, natural e inevitável. Fala-se dos pobres como se fossem uma classe diferente de seres humanos, preguiçosos e ociosos, ignorantes e acomodados, deixando completamente de lado a realidade histórica brasileira, que produziu um estado social extremamente injusto, desigual e até perverso, pois somente uma perversidade elitista e uma vasta estupidez explicam porque um país tão rico como o Brasil permite que crianças ainda passem fome. Há quem esqueça de que pobreza não é natural, mas sim feita por gente. Pobreza não é uma característica, pobreza é um estado. Ser brasileiro, por exemplo, isso é uma característica, coisa que fica. Um brasileiro não vira argentino só porque viajou para a Argentina, nem alemão porque foi na Alemanha. Ele continua brasileiro. Mas pobre? Dê dinheiro para o pobre e ele deixa de ser pobre, pobre que ganha na loteria vira milionário, ou seja, ele muda, ele passa a ser rico. A pobreza só é herdada porque hierarquia social infelizmente também é herdada. Ela não é, portanto, genética. Ela um estado, e estado pode ser mudado. Exponha o gelo ao sol e ele derreterá!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A paixão


S.K.D. Sulz escreveu que „a paixão é uma loucura”. Sim, quando nos apaixonamos, perdemos literalmente o juízo. O apaixonado fica totalmente entregue aos caprichos de seus sentimentos e uma fábrica química dentro de seu corpo assume o comando, desligando a razão. Você provavelmente já se apaixonou e sabe bem que a paixão não tem lógica, ela acontece ou não acontece, e quando ela acontece, nem sempre é aquilo que esperávamos. Lembro de um amigo que dizia que jamais se apaixonaria por uma mulher de aparência asiática e hoje está feliz, casado e perdidamente apaixonado por sua mulher japonesa. Não, ela não tem lógica, e nem poderia ter: a paixão é um processo bioquímico, nosso corpo produz substâncias que nos fazem sentir felizes, a vida fica “leve” e muito colorida. Essa loucura da paixão é importante e é uma loucura linda. É bom se apaixonar. Mas também é bom entender a paixão, pois ela, apesar de ser algo lindo, pode provocar também muita dor e sofrimento, já que mexe com coisas profundas, como nosso desejo de conhecer alguém, de amar esse alguém, de ser feliz a dois. A paixão é doce, mas também amarga. Entendê-la pode ser uma ajuda para evitar que a “doce loucura” termine se transformando em sofrimento.

Paixão não é amor

Eu diria que o amor é o destino. A paixão é um caminho.

Recordo-me de uma ex-namorada minha. Duas semanas depois de ter me conhecido, ela disse que me amava. Eu fiquei embaraçado e não soube bem como reagir. Estava claro que ela esperava ouvir o mesmo de mim. Eu estava muito apaixonado por ela, mas já a amava? Não, não a amava, pois, para mim, amar é em primeiro lugar gostar do outro assim como ele é. Mas, apesar de apaixonado e feliz, percebi que mal nos conhecíamos. Como eu poderia “amá-la assim como ela é” se eu ainda nem sabia direito como é que ela era. Percebi então a diferença entre paixão e amor. Eu estava apaixonado, feliz, otimista, planejando um futuro com aquela mulher, que eu queria conhecer, gostar cada dia mais, aprendendo a amá-la. Percebi que ela confundia amor com paixão. Acho importante entender que não é a mesma coisa. Ambos podem existir simultaneamente (tem coisa melhor do que estar apaixonado por quem se ama?), mas são coisas diferentes.
Mesmo que muitas vezes nos esqueçamos disso, o homem também é um animal, um ser vivo, parte da natureza. Todo ser vivo é biologicamente programado para sobreviver e se reproduzir, garantindo a existência da espécie. Soa seco, mas é um fato, que vale para qualquer ser vivo, para qualquer planta, para qualquer animal, também para os homens.

Não gostaria de ser mal entendido. Não quero de forma alguma reduzir a paixão a um mero instinto de sobrevivência. O encontro de duas pessoas, a atração física, a intimidade e tudo que acompanha essa fase fazem da paixão algo bem mais complexo, mas não deveríamos ignorar a importância de nossos instintos e do que acontece com nosso corpo e nossa cabeça quando nos apaixonamos.

O homem é um ser social. Com raras exceções, nenhum ser humano gosta de viver isolado, sem contato com outras pessoas. Isso fez com que ele, ainda cedo na sua evolução, optasse por viver em grupos, construindo mais tarde cidades, organizando em países, formando nações. Crescemos em famílias, nos sentimos intimamente ligados a determinadas pessoas, criamos laços emocionais, pois precisamos disso para sobreviver. Isso tem funcionado bem desde o inicio da vida humana neste planeta, já que estamos aqui até hoje. A estratégia social do animal homem não passou despercebida pela evolução humana, que achou um jeito de juntar mulher e homem e garantir a existência humana: a paixão. Uma solução bem mais elegante que o cio de outros animais.

Estou pessoalmente convencido de que nos apaixonamos pelo nariz. Diversos estudos comprovam isso. Mesmo que não percebamos de imediato (ou nunca!), é o nariz que decide por quem nos apaixonamos. Naturalmente há outros fatores, mas se o cheiro do outro não bater com o “programa biológico” do próprio corpo, ele não terá nenhuma chance. E acredito que percebemos isso muitas vezes. Talvez você conheça a experiência de achar uma pessoa atraente, de ficar interessado, de ver de novo, de ficar mais interessado ainda, mas perdendo rapidamente o interesse na primeira aproximação dos corpos. Tudo parecia perfeito, mas não funcionou mais a partir de um determinado momento. Normalmente isso passa despercebido, mas se você prestou bem atenção, foi o cheiro do outro que não agradou. Não falo de cheiro de perfume. Esse se pode comprar por aí. E nem digo que o outro cheirava mal. Falo do cheiro do corpo, do cheiro natural da pessoa. Isso não quer dizer que pessoas que “não se cheirem bem” não possam viver juntas e até mesmo amar uma a outra (amor não é paixão!). Mas duas pessoas com incompatibilidade de cheiro não vivem uma grande paixão.

 Às vezes nem entendemos porque não nos apaixonamos por determinadas pessoas. E muito menos entendemos por que nos apaixonamos por determinadas outras. Acredite: é o nariz. Escolhemos institivamente pelo cheiro alguém que tenha um sistema imunológico diferente do nosso para aumentar nossa resistência genética. Assim somos biologicamente programados. Quando o nariz dá o sinal verde e os demais fatores também estejam de acordo, o corpo produz dopamina e adrenalina, o nível de serotonina é alterado, a bagunça química começa, o corpo entra em festa, causando euforia e sentimento de felicidade, satisfação.

O que quero dizer é que a paixão é um caminho para que dois seres humanos possam se conhecer e talvez se amar. Precisamos dela, mas ela não é amor. Curta sua paixão e deixe o amor crescer. Mas use a palavra AMOR com moderação. Assim ela terá uma força digna quando for dita no momento certo, sem antecipação.

A paixão é cega

Na Alemanha se diz que alguém que se apaixona coloca óculos cor-de-rosa. Gosto muitíssimo desses “óculos cor-de-rosa”, pois descrevem bem o que acontece. Uma pessoa apaixonada vê tudo “cor-de-rosa”, tudo é bom, tudo é bonito, e nada é melhor ou mais bonito que a pessoa por quem se está apaixonado. A bagunça química causada no corpo desliga a razão, o coquetel que circula por nós faz com que nos sintamos “enfeitiçados”. Adrelina é um estimulante e serotonina tem propriedades similares às que possuem as drogas alucinógenas. A percepção do apaixonado é torcida, ele pensa todo o tempo na outra pessoa, de que tanto gosta e que deseja, achando que ela, independentemente da realidade, é uma pessoa perfeita.

A cegueira da paixão é às vezes perigosa, pois evita que se perceba a tempo problemas. Não é raro relações acabarem bruscamente no fim da fase de apaixonados. A paixão acaba, os óculos cor-de-rosa caem do nariz e de repente se vê as coisas como elas são. Quando estamos apaixonados, temos a tendência de relativizar ou ignorar defeitos do outro. Passando a paixão, a coisa perde o encanto e, no pior dos casos, a princesa volta a ser bruxa e São Jorge volta a ser dragão. Isso resulta não raramente em separações dramáticas e acusações recíprocas. Uma mulher apaixonada, por exemplo, até gosta de dormir abraçada com o namorado, escutando seu ronco e sentindo o tórax dele estremecendo. Quando a paixão acaba, o mesmo ronco pode ser motivo para uma separação.

É essa embriaguez que faz com que uma mulher conheça um homem, se apaixone, fique grávida, seja abandonada e somente então entenda que o “herói” dela não passava de uma fata morgana cor-de-rosa. Tem mulher que até perde muito dinheiro e até se endivida, pois acreditou na honestidade do cafajeste por qual se apaixonou. Dei dois exemplos de mulheres, mas o mesmo vale para homens. A paixão não nos permite agir de forma racional. Praticamente perdemos o controle sobre nossos atos. Ou como se explica que tantas mulheres engravidam e são abandonadas pelo pai da criança? Será que alguma delas teria ficado grávida se tivesse visto a realidade como realmente era? Ou como se explica que homens de meia-idade se apaixonam por mulheres com idade de suas filhas, separam-se das esposas, indo viver com a “menina”, voltando no final sem dinheiro e com a cara quebrada, rezando para que a esposa o aceite de volta?

Continuarei em breve...

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Mulher Maê!

Brasil Burro!

Texto escrito por um rapaz/homem de 19 anos que está cursando o nível médio em escola pública baiana (reproduzido aqui na íntegra)



terça-feira, 16 de abril de 2013

Redução da maioridade penal: uma reivindicação absurda!


Foto publicada no facebook, na página Verdade Oculta


É com preocupação que tenho acompanhado a campanha pela redução da maioridade penal para que adolescentes possam ser punidos como adultos.

Não percebemos realmente o absurdo de tal reivindicação? Fracassamos como sociedade, permitindo diferenças sociais e econômicas, consentindo que crianças pobres cresçam na marginalidade, sem educação, sem bons exemplos, sem perspectivas. Sim, somos nós, a sociedade, que deixamos esses jovens e adolescentes largados pela rua, os enxotamos quando eles querem lavar o para-brisa de um carro para ganhar uns trocados e os tratamos como se fossem seres de segunda categoria. Não nos importamos quando eles dormem embaixo de pontes, dentro de caixas de papelão e não nos preocupamos se estão tendo seus direitos respeitados, se estão se alimentando bem, se vão à escola e se estão protegidos contra marginais que os usam para praticar crime organizado, como o tráfico de drogas. Não acho que seja hipocrisia apelar para o bom senso e para a responsabilidade que cada um de nós tem como cidadão. É hipocrisia a sociedade permitir que crianças, adolescentes e jovens cresçam largados, na pobreza, sem perspectiva de vida e depois querer puni-los por isso.

De fato, o problema é sério, mas os malfeitores, os que realmente estão por trás disso, são maiores de idade. Por isso, não precisamos de redução alguma. Sim, os responsáveis pelos crimes cometidos por pessoas menores de idade são todos de maior. Por que não punimos os policiais corruptos que permitem que armas e drogas confiscadas voltem para as mãos de bandidos? Por que não punimos aqueles que agem sem escrúpulos, colocando armas nas mãos de crianças, colocando-as para trabalhar para eles? Por que não punimos os barões da droga, que as exploram e viciam, que ganham com a marginalização do jovem pobre? Por que não punimos os políticos corruptos, que ganham com a violência, que toleram ou até mesmo patrocinam o tráfico, que financiam campanhas eleitorais caríssimas com dinheiro de fonte obscura? E por que não damos uma sacudida em todos aqueles que nunca se importaram com o destino de crianças pobres, que nunca deram murro na mesa para protestar contra os absurdos sofridos por crianças no Brasil ou participou de qualquer manifestação a favor dos seus direitos, aqueles que se calam quando crianças pobres famintas pedem comida em restaurantes e são enxotadas como se fossem bichos, mas que agora chamam essas mesmas crianças de monstros, transformando vítimas em bandidos.

O problema da violência no Brasil é sério e precisa ser resolvido, mas não com reivindicações desse tipo. Se queremos resolver o problema da violência no Brasil, temos que cortar pela raiz, mudando estruturas e mudando a mentalidade, fazendo com que as pessoas parem de achar que pequenas picaretagens não são nada demais, deixando de pagar propina a polícia quando é pego dirigindo bêbado, acabando com as “taxas inoficiais” em cartórios e repartições, não sonegando mais impostos, etc., etc., etc. Seria necessário repensar o sistema judiciário brasileiro, que anda com cadeias superlotadas e crime organizado dentro delas. Precisaríamos de um consenso nacional em prol de nossas crianças, adolescentes e jovens, oferecendo educação, combatendo a pobreza, valorizando-os como aquilo que esses jovens são para nós: nosso futuro. E é esse futuro que estamos querendo colocar ainda mais cedo na cadeia.


Foto também publicada na página Verdade Oculta. Para rir, mas também refletir.