quarta-feira, 3 de abril de 2013

A força do pensamento



Nossa mente influencia nossas vidas, às vezes até nos domina. Entender isso é muito importante para que possamos nos libertar de muitas tiranias da razão.

Passei hoje por uma situação que me mostrou mais uma vez a força que temos dentro de nossa cabeça: acordei hoje com muita sede, e bebi muita água. Depois saí para resolver umas coisas. Estava frio lá fora e não demorou muito para a água bebida se manifestar; eu precisava ir ao banheiro. Como sempre, não havia nenhum banheiro próximo, de modo que terminei segurando a vontade. Não tive sorte, não achei nenhum banheiro e terminei segurando por mais de duas horas. A vontade era forte, mas consegui controlá-la até com certa facilidade, já que não havia outro jeito mesmo. Ao chegar em casa e abrir a porta do apartamento, meu cérebro recebeu a informação de que o banheiro estava perto e de repente tive que correr, pois a bexiga parecia que iria estourar.

Parece simplesmente uma história banal, mas ela é bem mais que isso. Ela mostra o controle que nosso cérebro exerce sobre nosso corpo. E compreender isso pode nos ajudar em muitas situações, principalmente naquelas quando somos dominados pela razão, quando ficamos entregues à tirania de nossa cabeça, que nos controla, que nos bloqueia, que impede que nos libertemos de uma determinada situação, que normalmente se encontra no passado, mas que é mantida viva pela nossa cabeça, que por sua vez é alimentada por informações. Na história acima, a informação de que não havia banheiro por perto me ajudou a controlar meu corpo e a segurar a vontade, ou melhor, a necessidade. Quando cheguei em casa, onde havia um banheiro, essa informação perdeu a validade e o cérebro devolveu o controle ao corpo, que exigiu então seu alívio.

As informações influenciam nosso cérebro, que controla não somente nosso corpo, mas também nosso comportamento. Gostaria de tentar ilustrar isso com uma outra história: eu estava sentado em um avião, entre Salvador e Frankfurt, quando entramos em uma zona de turbulências. O avião sacudia levemente, mas de forma constante, os ruídos que vinham do lado de fora eram esquisitos. Uma situação desagradável, mas, enquanto isso, as aeromoças e aeromoços serviam o jantar. Olhei para o outro lado do corredor e vi uma senhora nervosa, com um semblante muito pálido. Vi que ela estava sentindo muito medo e sei que medo é uma coisa que só existe na cabeça. E sua cabeça tinha sido alimentada com as informações de que ela estava voando e que o avião, que pode cair, balançava o tempo todo. Resolvi tentar ajudá-la, passando a ela uma nova informação. Pedi a ela que observasse o comportamento da tripulação, que estava acostumada a voar, e que estava ali, tranquila, servindo o jantar. Disse-lhe que eles se sentariam de imediato e colocariam o cinto de segurança se a situação fosse crítica e que ela não precisava, portanto, ter medo. Ela olhou séria para a tripulação, ficou um tempo calada, respirou fundo e se sentiu mais aliviada. A palidez sumiu de sou rosto. Mas tarde, já no aeroporto, ela agradeceu e disse que eu realmente tinha razão. Ver a tripulação trabalhando normalmente a ajudou a perder o medo naquele momento, o medo que a dominava. Achei interessante perceber como bastou atualizar as informações para reprogramar o controle exercido pela cabeça.

Por que escrevo sobre isso? Por ter observado que algumas pessoas sofreriam menos se entendessem como as informações que recebemos - e mais ainda aquelas que armazenamos - têm uma grande influência sobre nosso comportamento, sobre a nossa forma de viver e sobre nossa saúde.

Entendendo essa relação entre as informações que recebemos e nosso bem-estar, podemos ajudar a nós mesmos, pois compreendemos então que é possível usar esse controle para mudar o que não está funcionando bem. Nossos pensamentos são resultados das experiências vividas e das informações recebidas/armazenadas. Podemos influenciar nossos pensamentos, aprendendo a observar a nós mesmos. Observe seu próprio comportamento, não como um juiz, querendo julgar se o comportamento é certo ou errado. Observe como um cientista, que quer entender o que está acontecendo. Seja crítico, mas seja também paciente e bom com você mesmo. Tente alimentar sua cabeça com as informações que você precisa, e tente atualizar informações antigas, que ficaram guardadas por algum motivo. Esse tipo de informação pode nos acompanhar por toda a vida, influenciando nosso comportamento, muitas vezes de forma positiva e útil, mas às vezes de forma deturpada e sem sentido. Um exemplo: uma pessoa que, por ter sido mordida na sua infância, entra em pânico quando vê um cachorro, pode controlar esse pânico através de contatos positivos com cães. É possível que ela corrija a informação armazenada de que “todo cachorro é perigoso, qualquer um poderia me morder”, entendendo que “a maioria dos cachorros não é agressiva. É necessário tomar cuidado, mas não é preciso entrar em pânico quando se vê um cão”.

A psicologia moderna sabe que as informações que recebemos têm grande importância para nosso comportamento e diz que é importante ter cuidado também com as palavras que usamos. O uso de palavras negativas nos prejudica. Sem que percebamos, usamos palavras que nos fazem mal, que reforçam uma informação negativa salva. Um bom exemplo é a palavra ‘ódio’. Quantas vezes ficamos com raiva e dizemos que odiamos algo ou alguém? Muitas vezes. Há quem argumente que fala ‘ódio’ mas não quer dizer ‘ódio’. Não estou seguro de que isso funciona. Normalmente sabemos o significado de ódio. Nossa cabeça sabe. E isso pode provocar uma reação de ódio, mesmo que não tenha sido essa a intenção. E o mesmo vale para muitas outras palavras, principalmente para todas aquelas que provocam em nós sentimentos de agressividade, culpa ou estresse. Se você ficar repetindo, por exemplo, que “a culpa é sua”, você vai terminar acreditando nisso. E isso não lhe fará bem.

O sorriso ao contrário


É claro que o cérebro não nos influencia só negativamente. Um bom exemplo é o sorriso. O cérebro recebe uma informação positiva, agradável ou engraçada e dispara o movimento de músculos em nosso rosto, provocando o sorriso. Muito interessante aqui é que se descobriu que o contrário também funciona: o sorriso ao contrário, ou seja, a movimentação dos músculos no rosto para provocar um sorriso passam um sinal positivo ao cérebro, que se contenta. É nisso que se baseia, por exemplo, a yoga do riso. É claro que nada substitui um riso espontâneo e verdadeiro, mas um sorriso falso é melhor do que nenhum sorriso. Sorria, então. Isso sempre faz bem.

Saúde começa na cabeça


Em uma fase de enfermidade, observei que conversava muito sobre minha doença. O que não percebi de imediato foi o mal que isso me fazia. Isso ficou claro quando tirei uns dias para descansar e fiquei cercado de pessoas que não conhecia. Praticamente não falei sobre meus problemas de saúde e dediquei-me a outros temas, em conversas agradáveis. No final, percebi o quanto me havia feito bem não pensar na doença por alguns dias. É lógico que temos que ocupar nossos pensamentos com nossa enfermidade, é claro que devemos tentar entendê-la, mas não devemos pensar nela o tempo todo. Devemos manter vigilância, observar a nós mesmos e intervir ao perceber que nossos pensamentos estão nos fazendo mal, buscando novas informações e experiências positivas, usando o cérebro como uma ferramenta super eficaz e preciosa, ao invés de se deixar dominar por ele.

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