Nossa mente influencia nossas vidas, às vezes até nos domina. Entender isso é muito importante para que possamos nos libertar de muitas tiranias da razão.
Passei hoje
por uma situação que me mostrou mais uma vez a força que temos dentro de nossa
cabeça: acordei hoje com muita sede, e bebi muita água. Depois saí para
resolver umas coisas. Estava frio lá fora e não demorou muito para a água
bebida se manifestar; eu precisava ir ao banheiro. Como sempre, não havia
nenhum banheiro próximo, de modo que terminei segurando a vontade. Não tive
sorte, não achei nenhum banheiro e terminei segurando por mais de duas horas. A
vontade era forte, mas consegui controlá-la até com certa facilidade, já que
não havia outro jeito mesmo. Ao chegar em casa e abrir a porta do apartamento,
meu cérebro recebeu a informação de que o banheiro estava perto e de repente
tive que correr, pois a bexiga parecia que iria estourar.
Parece
simplesmente uma história banal, mas ela é bem mais que isso. Ela mostra o
controle que nosso cérebro exerce sobre nosso corpo. E compreender isso pode
nos ajudar em muitas situações, principalmente naquelas quando somos dominados
pela razão, quando ficamos entregues à tirania de nossa cabeça, que nos
controla, que nos bloqueia, que impede que nos libertemos de uma determinada
situação, que normalmente se encontra no passado, mas que é mantida viva pela
nossa cabeça, que por sua vez é alimentada por informações. Na história acima,
a informação de que não havia banheiro por perto me ajudou a controlar meu
corpo e a segurar a vontade, ou melhor, a necessidade. Quando cheguei em casa,
onde havia um banheiro, essa informação perdeu a validade e o cérebro devolveu
o controle ao corpo, que exigiu então seu alívio.
As
informações influenciam nosso cérebro, que controla não somente nosso corpo,
mas também nosso comportamento. Gostaria de tentar ilustrar isso com uma outra
história: eu estava sentado em um avião, entre Salvador e Frankfurt, quando entramos em uma zona de turbulências. O avião sacudia levemente, mas de
forma constante, os ruídos que vinham do lado de fora eram esquisitos. Uma situação desagradável, mas, enquanto
isso, as aeromoças e aeromoços serviam o jantar. Olhei para o outro lado do
corredor e vi uma senhora nervosa, com um semblante muito pálido. Vi que ela
estava sentindo muito medo e sei que medo é uma coisa que só existe na cabeça.
E sua cabeça tinha sido alimentada com as informações de que ela estava voando
e que o avião, que pode cair, balançava o tempo todo. Resolvi tentar ajudá-la,
passando a ela uma nova informação. Pedi a ela que observasse o comportamento
da tripulação, que estava acostumada a voar, e que estava ali, tranquila,
servindo o jantar. Disse-lhe que eles se sentariam de imediato e colocariam o cinto de segurança se a situação fosse crítica e que ela não precisava,
portanto, ter medo. Ela olhou séria para a tripulação, ficou um tempo calada,
respirou fundo e se sentiu mais aliviada. A palidez sumiu de sou rosto. Mas
tarde, já no aeroporto, ela agradeceu e disse que eu realmente tinha razão. Ver
a tripulação trabalhando normalmente a ajudou a perder o medo naquele momento, o
medo que a dominava. Achei interessante perceber como bastou atualizar as
informações para reprogramar o controle exercido pela cabeça.
Por que
escrevo sobre isso? Por ter observado que algumas pessoas sofreriam menos se
entendessem como as informações que recebemos - e mais ainda aquelas que
armazenamos - têm uma grande influência sobre nosso comportamento, sobre a
nossa forma de viver e sobre nossa saúde.
Entendendo
essa relação entre as informações que recebemos e nosso bem-estar, podemos ajudar
a nós mesmos, pois compreendemos então que é possível usar esse controle para mudar
o que não está funcionando bem. Nossos pensamentos são resultados das
experiências vividas e das informações recebidas/armazenadas. Podemos
influenciar nossos pensamentos, aprendendo a observar a nós mesmos. Observe seu
próprio comportamento, não como um juiz, querendo julgar se o comportamento é
certo ou errado. Observe como um cientista, que quer entender o que está
acontecendo. Seja crítico, mas seja também paciente e bom com você mesmo. Tente
alimentar sua cabeça com as informações que você precisa, e tente atualizar
informações antigas, que ficaram guardadas por algum motivo. Esse tipo de
informação pode nos acompanhar por toda a vida, influenciando nosso
comportamento, muitas vezes de forma positiva e útil, mas às vezes de forma
deturpada e sem sentido. Um exemplo: uma pessoa que, por ter sido mordida na
sua infância, entra em pânico quando vê um cachorro, pode controlar esse pânico
através de contatos positivos com cães. É possível que ela corrija a informação
armazenada de que “todo cachorro é perigoso, qualquer um poderia me morder”, entendendo
que “a maioria dos cachorros não é agressiva. É necessário tomar cuidado, mas
não é preciso entrar em pânico quando se vê um cão”.
A
psicologia moderna sabe que as informações que recebemos têm grande importância
para nosso comportamento e diz que é importante ter cuidado também com as
palavras que usamos. O uso de palavras negativas nos prejudica. Sem que
percebamos, usamos palavras que nos fazem mal, que reforçam uma informação negativa
salva. Um bom exemplo é a palavra ‘ódio’. Quantas vezes ficamos com raiva e
dizemos que odiamos algo ou alguém? Muitas vezes. Há quem argumente que fala ‘ódio’
mas não quer dizer ‘ódio’. Não estou seguro de que isso funciona. Normalmente
sabemos o significado de ódio. Nossa cabeça sabe. E isso pode provocar uma
reação de ódio, mesmo que não tenha sido essa a intenção. E o mesmo vale para
muitas outras palavras, principalmente para todas aquelas que provocam em nós sentimentos
de agressividade, culpa ou estresse. Se você ficar repetindo, por exemplo, que “a
culpa é sua”, você vai terminar acreditando nisso. E isso não lhe fará bem.
O sorriso ao contrário
É claro que
o cérebro não nos influencia só negativamente. Um bom exemplo é o sorriso. O
cérebro recebe uma informação positiva, agradável ou engraçada e dispara o
movimento de músculos em nosso rosto, provocando o sorriso. Muito interessante
aqui é que se descobriu que o contrário também funciona: o sorriso ao
contrário, ou seja, a movimentação dos músculos no rosto para provocar um
sorriso passam um sinal positivo ao cérebro, que se contenta. É nisso que se
baseia, por exemplo, a yoga do riso. É claro que nada substitui um riso
espontâneo e verdadeiro, mas um sorriso falso é melhor do que nenhum sorriso.
Sorria, então. Isso sempre faz bem.
Saúde começa na cabeça
Em uma fase
de enfermidade, observei que conversava muito sobre minha doença. O que não
percebi de imediato foi o mal que isso me fazia. Isso ficou claro quando tirei
uns dias para descansar e fiquei cercado de pessoas que não conhecia. Praticamente
não falei sobre meus problemas de saúde e dediquei-me a outros temas, em
conversas agradáveis. No final, percebi o quanto me havia feito bem não pensar
na doença por alguns dias. É lógico que temos que ocupar nossos pensamentos com
nossa enfermidade, é claro que devemos tentar entendê-la, mas não devemos
pensar nela o tempo todo. Devemos manter vigilância, observar a nós mesmos e intervir
ao perceber que nossos pensamentos estão nos fazendo mal, buscando novas
informações e experiências positivas, usando o cérebro como uma ferramenta
super eficaz e preciosa, ao invés de se deixar dominar por ele.
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